Novidades

04 DEZ
M113: dirigimos o veículo que é considerado o Fusca do Exército Brasileiro

M113: dirigimos o veículo que é considerado o Fusca do Exército Brasileiro

Blindado encara todo tipo de terreno (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Já dirigi coisas estranhas: triciclo que inclina nas curvas (Carver One), moto que dá marcha a ré (Honda Gold Wing), carro anfíbio (VW Schwimmingwagen) e trator com joysticks no lugar de volante e pedais (Caterpillar 12M).

Veículo militar sobre lagartas foi a primeira vez.

Pilotei o modelo M113 BR cedido pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar, de Curitiba (PR), que é um departamento responsável pela operação desse e de outros carros de combate do Exército brasileiro.

M113 BR é um veículo usado para o transporte das tropas (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O M113 BR tem um modo de condução bem esquisito. Além da ausência das rodas em contato com o piso, ele não tem volante e nem pedal de freio.

O M113 BR é controlado por manches que comandam dois diferenciais e possibilitam realizar todas as manobras. De convencional, só há o pedal do acelerador.

O câmbio é automático, mas permite que se selecione a combinação das marchas: são três à frente e uma marcha a ré.

A alavanca tem seis posições: 1 (só vai até a 1ª, para maior força), 1-2 (até a 2ª), 1-3 (até a 3ª), 2-3 (varia da 2ª a 3ª para maior velocidade), N (neutro) e R (ré).

Manches reúnem as funções de freio e direção (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Seus diferenciais trabalham de forma independente, um para cada lado do veículo, transmitindo a força do motor às engrenagens que tracionam as lagartas.

Os manches, por sua vez, acionam os freios que controlam os diferenciais. Por meio deles é possível parar o veículo (puxando as duas alavancas para frear os dois diferenciais) e manobrá-lo (a partir do bloqueio de apenas um dos lados).

A alavanca do câmbio permite selecionar os intervalos das marchas usadas (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Para virar à direita, basta frear o diferencial direito e deixar que o esquerdo continue a acionar a lagarta da esquerda. Para virar à esquerda, basta frear o diferencial esquerdo. Para seguir em frente, empurre as duas alavancas para liberar os dois lados.

Há ainda um segundo par de alavancas usado para bloquear os diferenciais e possibilitar manobras rápidas. Você já viu cenas de guerra em que os tanques parecem deslizar sobre patins? São essas alavancas que permitem esses movimentos.

Além do motorista, o carro pode acomodar onze militares (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Antes de dirigir, passei por um treinamento. Um instrutor me apresentou os principais comandos do veículo (chave geral, contato, painel, acelerador, câmbio e alavancas) e disse que, no começo, eu deveria obedecer sua orientação.

Combinamos que ele diria o que fazer por meio de comandos. Se quisesse que eu virasse à direita, ele bateria no meu ombro direito. Para virar à esquerda, no ombro esquerdo.

Na hora de frear, o sinal era uma batida no alto do capacete. Quando fosse necessário reduzir a velocidade, ele bateria nas minhas costas.

Apesar de pesar quase 10 toneladas, M113 BR também é anfíbio (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Começamos movendo o carro em linha reta, para a frente e para trás. Os manches se assemelham a alavancas de freio de estacionamento de automóveis, só que maiores e instalados na posição vertical.

Para liberá-los, é preciso apertar um botão na parte superior. A alavanca do câmbio, por sua vez, é bem diferente das encontradas nos automóveis.

Para selecionar o grupo de marchas que se quer usar, é preciso soltar uma trava e correr a haste por uma guia com ressaltos para evitar erros na seleção.

Engrenagem dianteira é de tração, traseira é tensionadora e as rodas apenas apoiam a lagarta (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Terminados os exercícios, fui autorizado a me embrenhar pelas trilhas do Parque de Manutenção, que eram tão acidentadas em alguns trechos que davam a impressão de que ninguém havia passado por ali antes.

Não foi difícil me acostumar com os manches e saber quanto eu deveria frear os diferenciais para conseguir o esterço desejado.

Na hora de frear para estacionar, no começo eu puxava as alavancas com muita força e tinha a sensação de que não ia conseguir travá-las. Mas eu estava puxando mais do que o necessário, indo além do ponto da trava. Quando identifiquei o ponto certo, ficou fácil.

Lagartas têm sapatas de borracha e ressaltos que funcionam como pás, na navegação (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O treinamento aconteceu na parte da manhã. À tarde, seguimos para o Campo de Instrução do Exército, que fica a cerca de 30 km de Curitiba, em uma área onde eu pude andar sozinho na maior parte do tempo explorando o veículo e o terreno.

Equipado com motor V6 turbodiesel de dois tempos, de 268,7 cv, o M113 BR pode atingir 61 km/h de velocidade máxima.

Não parece muito se comparado a um automóvel, mas é bastante quando se está no comando de um veículo pesado como o M113 BR – são 9.930 kg.

Blindado pode atingir 61 km/h de velocidade máxima (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Sua aceleração é crescente e constante, e, durante o movimento, o tanque acumula bastante energia, o que fica nítido quando se precisa frear. O consumo divulgado pelo Exército é assustador: 1,8 km/l na estrada!

O nível de ruído é alto porque junta o barulho do motor com o das lagartas. Mas isso não me incomodou. Ao contrário, serviu para amplificar minha experiência a bordo.

Com a escotilha fechada, a visão do motorista fica restrita a quatro periscópios (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A parte mais tensa foi quando desci uma ladeira íngreme, situação em que, mesmo freado, o veículo deslizava para o lado em que a terra estava mais fofa.

Nessas horas, o M113 BR saía levemente da trajetória ao mesmo tempo que minha visão do barranco ao lado da trilha era quase nula. O instrutor tinha me avisado que não havia risco, mas eu não tinha ideia de como seria a descida.

O instrutor voltou a bordo quando colocamos o veículo na água.

O M113 BR é anfíbio. Apesar de ter quase 10 toneladas, ele flutua e consegue se locomover como uma balsa devido aos pequenos ressaltos nas lagartas que trabalham como pás remando quando o veículo está submerso.

Com um diferencial travado, o carro é capaz de girar sobre o eixo (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A tração por lagartas é uma invenção atribuída ao polonês Jösef Maria Höené-Wronski (1776-1853), embora a primeira patente seja do inglês George Cayley (1773-1857). As primeiras aplicações foram feitas em máquinas agrícolas.

A vantagem das lagartas está na tração e na distribuição do peso do veículo, graças à maior área de contato permitindo a transferência da força do motor em tempo integral em qualquer terreno.

Essa tecnologia chegou aos veículos militares durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas foi na Segunda (1939-1945) que se popularizou. Pela definição do Exército, o M113 BR é uma Viatura Blindada para Transporte de Pessoal (VBTP).

 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Sua carroceria – de alumínio balístico, que além de ser mais leve que o aço é mais resistente à perfuração – comporta 12 ocupantes, sendo motorista, atirador e dez soldados.

Fabricado nos EUA, pela FMC (Food Machinery and Chemical Corporation), o M113 é uma espécie de Fusca no meio militar. Além de simples, robusto e fácil de manter, ele é um dos veículos de combate mais utilizados no mundo.

Seu projeto surgiu nos anos 50 e passou por várias mudanças ao longo do tempo.

Segundo o especialista Expedito Bastos, autor do livro M113 no Brasil, o Clássico Ocidental, o M113 teve mais de 80.000 unidades produzidas ao longo do tempo, sendo empregado até hoje em cerca de 50 países.

M113 BR tem motor V6 diesel, de dois tempos, que gera 268,7 cv de potência (Fernando Pires/Quatro Rodas)

As unidades do Exército brasileiro datam de meados dos anos 60, mas ao chegar aqui elas receberam melhorias, como reforços estruturais, mudanças na suspensão e novo conjunto de motor e câmbio (a versão original tinha um V8 Chrysler a gasolina e as anteriores à atual utilizaram motor Mercedes de seis cilindros em linha diesel).

O BR adicionado ao nome identifica a versão brasileira.

Passado o estranhamento inicial, confesso: eu me diverti muito no comando do Fusca do mundo militar.

Motor: Detroit Diesel, dianteiro, longitudinal, V6, 2 tempos, turbo, 268,7 cv a 2.800 rpm
Câmbio: Alisson, automático, 3 marchas, e caixa de transferência BAE Systems (1ª marcha até 16 km/h; 2ª até 32 km/h; 3ª até 61 km/h)
Carroceria: alumínio balístico, 12 ocupantes
Suspensão: 10 barras de torção e 6 amortecedores
Freios e direção: mecânicos, com manches que acionam os diferenciais controlados
Lagartas: 127 patins e 20 rodas de apoio (somando os dois lados)traseira)
Dimensões: comprimento, 486 cm; largura, 267 cm; altura, 253 cm; peso, 9.930 kg; tanque, 359,6 l; carga máxima rebocável, 6.583 kg
Desempenho: velocidade máxima na terra 61 km/h; velocidade máxima na água, 5,79 km/h; rampa máxima, 60%, inclinação máxima 30%; consumo, 1,8 km/l (estrada)

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

26 DEZ
Novo SUV da Renault da Índia tem chances de ser feito no Brasil

Novo SUV da Renault da Índia tem chances de ser feito no Brasil

Novo SUV terá menos de 4 metros com cinco lugares, usando a mesma plataforma do Kwid (CarToq/Reprodução)O CEO da Renault indiana, Venkatram Mamillapale, confirmou o lançamento de um SUV com menos de quatro metros para 2020.Até o momento ele carrega o nome do projeto: HBC. Segundo Mamillapale, “o lançamento acontecerá no segundo semestre do próximo ano”.O veículo compartilha a plataforma CMF-A com o subcompacto Kwid, o que é meio caminho andado para que a Renault do Brasil faça o... Leia mais
26 DEZ
Retrospectiva: os carros que decepcionaram no lançamento em 2019

Retrospectiva: os carros que decepcionaram no lançamento em 2019

Tudo ia bem com o Onix Plus, até o recall por incêndio (Divulgação/Chevrolet)Eles tinham (quase) tudo para fazer o maior sucesso, mas não tiveram a estreia dos sonhos por conta de alguns empecilhos – fosse por preço elevado, visual controverso, falta de equipamentos de segurança e até risco de pegar fogo. Confira os lançamentos que derraparam em 2019:Honda HR-V TouringTouring 1.5 Turbo se tornou nova versão de topo do HR-V (Christian Castanho/Quatro Rodas)A versão topo de linha... Leia mais
26 DEZ
Guia de Usados: VW Saveiro, a única picapinha a ter saído dos anos 90

Guia de Usados: VW Saveiro, a única picapinha a ter saído dos anos 90

Dependendo da versão, a capacidade de carga da Saveiro chega a 715 kg (Christian Castanho/Quatro Rodas)Parece que foi ontem, mas já se passaram dez anos desde que a quinta geração da Saveiro estreou.O modelo 2010 representou a maior evolução nos 37 anos da picape, marcada pela adoção do motor transversal, da cabine estendida e da dirigibilidade similar à de carro de passeio.Responsável por 25% da produção, a aventureira Cross tem a maior aceitação em função do bom nível de... Leia mais
26 DEZ
Clássicos: O Kaiser DeLuxe que não agradava só os baixinhos

Clássicos: O Kaiser DeLuxe que não agradava só os baixinhos

O para-brisa do Kaiser-Frazer se desarmava em colisões (Christian Castanho/Quatro Rodas)Erguida em 1941 para construir bombardeiros B-24 Liberator para a Segunda Guerra, a fábrica de Willow Run, na periferia de Detroit, dedicou seus primeiros anos de paz à produção dos automóveis Kaiser e Frazer. Desenhados por Howard Darrin, os primeiros automóveis deixaram a linha de produção em 1946, menos de um ano após a fundação da Kaiser-Frazer Corporation.Apaixonado por automóveis, o... Leia mais
24 DEZ
Procon pede esclarecimentos à GM sobre defeitos do Onix Plus

Procon pede esclarecimentos à GM sobre defeitos do Onix Plus

Existe risco de vazamento de combustível próximo ao reservatório. (Fernando Pires e Fabio Gonzalez/Quatro Rodas)O Procon, vinculado à Secretaria de Justiça e Cidadania, notificou a General Motors para que a empresa forneça esclarecimentos sobre problemas apresentados pelo Chevrolet Onix Plus 2020.Os problemas, no caso, não são os do software do motor que acarreta na quebra do bloco, defeito que já é alvo de recall.Desta vez, a falha se dá no sistema de alimentação do veículo,... Leia mais
24 DEZ
GLB: novo SUV da Mercedes tem plataforma de compacto, mas leva 7 pessoas

GLB: novo SUV da Mercedes tem plataforma de compacto, mas leva 7 pessoas

As linhas angulosas remetem ao estilo quadradão do Classe G (Divulgação/Mercedes-Benz)As linhas angulosas remetem ao estilo quadradão do Classe G (Divulgação/Mercedes-Benz)A Mercedes-Benz acredita que para o GLB estão reservados vôos bem altos num momento em que tudo o que é SUV vende como pipoca quentinha no cinema. Dentro da própria marca, a força dos SUVs é clara: o GLC, por exemplo, ultrapassou o Classe C e hoje é o Mercedes-Benz mais vendido do mundo.Mesmo fazendo parte da... Leia mais