Novidades

18 OUT
Toma essa, Coringa! QUATRO RODAS já vendeu carro roubado ao Batman

Toma essa, Coringa! QUATRO RODAS já vendeu carro roubado ao Batman

Matéria publicada em 1970 denunciou fraude com veículos roubados (Acervo/Quatro Rodas)

Lamentamos, Coringa, mas essa nem você conseguiria: QUATRO RODAS já vendeu um carro roubado ao Homem-Morcego. Parece coisa de ficção de filme de herói ou história em quadrinhos, mas esse fato é realmente verídico e aconteceu em 1970 – e não em Gotham City, mas em São Paulo mesmo.

A chamada “Operação Batman” começou a ser planejada no início de 1970. A revista queria apurar uma denúncia de que carros roubados estavam sendo legalizados e revendidos, lesando seriamente, portanto, os consumidores, que de nada suspeitavam: a documentação que recebiam era, a princípio, totalmente correta, emitia pelo DET, o Departamento Estadual de Trânsito.

O mais incrível é que naquela época essa possibilidade existia, conforme QUATRO RODAS conseguiu provar, não exatamente por má-fé de funcionários dos órgãos de trânsito, mas sim apenas por brechas geradas em processos burocráticos aliados à ineficiência de órgãos públicos.

Naquele tempo, para transferir um veículo para o nome de outra pessoa, bastava ao interessado possuir o certificado de propriedade do carro e um número da carteira do novo proprietário, documentos que então podiam ser facilmente falsificados. Além disso a revista conseguiu mostrar que o órgão de trânsito estadual de São Paulo da época e a polícia não se conversavam, o que facilitava bastante o crime.

Chamada na capa foi censurada à época (Acervo/Quatro Rodas)

A Operação Batman entrou em ação em 5 de fevereiro, por meio de um anúncio de jornal oferecendo um Chevrolet 1939 – à época um carro bastante velho, com mais de 30 anos – duas portas por 600 cruzeiros novos, algo como R$ 1 mil em valores atualizados, uma verdadeira pechincha. O carro estava em péssimo estado de conservação, mas andava, e não foi escolhido à toa: parte fundamental do plano era a alegação, fictícia, que o Chevrolet seria usado em uma cena de capotamento e explosão em um filme de um diretor estadunidense que estava sendo gravado no Brasil.

O carro estava à venda em uma loja da Zona Leste de São Paulo. A reportagem comprou o carro e o deixou estacionado em frente ao prédio da Editora Abril, em plena Marginal Tietê – no caminho um dos pneus, totalmente careca, furou.

Alguns dias depois, de posse de uma nota fiscal de compra do carro, o repórter foi a uma delegacia e relatou que o carro fora furtado nas proximidades da Rua Augusta, na região Central de São Paulo, ainda que o velho Chevrolet continuasse imóvel estacionado em frente à Editora Abril. Saiu de lá com um Boletim de Ocorrência e com ele rumou à Delegacia de Furtos de Automóveis, órgão policial específico da época, onde o fato também foi registado.

No dia seguinte, a terça-feira, 17, de posse dos documentos do carro em nome do dono anterior entregues pela loja, o repórter procurou um despachante. Alegou novamente que o carro seria usado em uma cena de acidente de um filme de um diretor estadunidense e adicionou que fazia parte da produção do filme. Por essa razão, explicou, o Chevrolet fora comprado por ele, mas o diretor exigia a transferência do carro para seu nome porque “esses americanos têm mania de organização”. Disse ainda que o diretor estava fora de São Paulo para buscar novas locações para o filme e por isso não poderia assinar a papelada.

Chevrolet 1939 foi comprado pelo equivalente a R$ 1.000 (Acervo/Quatro Rodas)

O nome do tal diretor que deveria constar do documento do carro, informado pelo repórter: Bruce Wayne. O despachante apenas disse “pelo nome logo vi que era americano” e, pasme, prometeu os novos documentos para o fim do dia seguinte. Importante observar que isso ocorreu sem que o despachante ou a reportagem tivessem sequer sugerido o uso de qualquer tipo de ilegalidade para obtenção da papelada.

No horário combinado do dia seguinte, porém, ao telefone, o despachante informou que houve um problema e que o documento não foi liberado. Teria então o DET, Departamento Estadual de Trânsito, recebido a comunicação de roubo da Delegacia de Furtos de Automóveis e impedido a emissão do novo documento, como seria correto?

Documento comprovava a posse do Chevrolet em nome de Bruce Wayne (Acervo/Quatro Rodas)

Ledo engano. O despachante informou que os documentos não saíram porque o DET exigiu o pagamento de uma taxa de placas, vencida no mês anterior. Quatro Rodas pagou a taxa e recebeu na tarde do dia seguinte os documentos do carro em nome de Bruce Wayne.

A reportagem, assinada por Roberto Benevides, foi publicada na edição de maio de 1970. Logo após, por coincidência, o delegado responsável pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo foi substituído.

A brilhante matéria, aliás, teria direito a uma chamada de capa, mas na época havia censores nas redações das revistas da Abril. A censura liberou a publicação da reportagem, mas não permitiu que fosse mencionada na capa da revista.

Charge publicada em outros veículos de comunicação (Acervo/Quatro Rodas)

Após a publicação a matéria teve ampla repercussão, sendo mencionada inclusive por outros órgãos de imprensa, como o extinto jornal Última Hora, acompanhada de uma charge. E por isso acabou por gerar dois inquéritos, um no Departamento de Trânsito e outro na Polícia Civil. Como resultado, cada um concluiu que a culpa era do outro. Depois o caso seguiu para uma Procuradoria, que encontrou outro culpado: o repórter. Mas o processo nunca seguiu adiante.

Já o Chevrolet teve um destino curioso. A carroceria estava totalmente corroída por ferrugem e motor e câmbio formavam um lamento só, sendo as únicas partes ainda aproveitáveis o chassi e os eixos. Assim ele foi transformado e reaproveitado como um veículo interno de transporte de material: amargo destino para quem representou papel de uma espécie de novo Batmóvel.

Essas e outras histórias envolvendo a imprensa automotiva podem ser conferidas de perto no MIAU, o Museu da Imprensa Automotiva – cujo acervo, aliás, contém a edição original de Quatro Rodas com a reportagem do Batman que comprou um carro roubado. O museu fica na R. Marcelina, 108, na zona oeste de São Paulo, e funciona aos sábados e domingos das 13h às 17h. O site é o www.miaumuseu.com.br e o telefone o (11) 98815.7467.

É jornalista especializado em automóveis e fundador do Museu da Imprensa Automotiva.

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

11 NOV
'Recusa em fazer teste do bafômetro configura infração, independente da embriaguez', decide Justiça do DF

'Recusa em fazer teste do bafômetro configura infração, independente da embriaguez', decide Justiça do DF

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) entendeu que "a recusa do motorista em realizar o teste do bafômetro configura infração de trânsito". A decisão unanime foi divulgada nesta segunda-feira (11). Para o relator da turma, Asiel Henrique de Sousa, "a vontade da lei é punir o motorista que se recusa a colaborar com as autoridades que fiscalizam o trânsito". A medida foi tomada pela Turma de Uniformização de Jurisprudência do TJDF depois de várias... Leia mais
11 NOV
Entenda o Seguro DPVAT, que deverá ser extinto a partir de 2020

Entenda o Seguro DPVAT, que deverá ser extinto a partir de 2020

O presidente da República, Jair Bolsonaro, anunciou nesta segunda-feira (11) a extinção do seguro obrigatório DPVAT a partir de 2020. Veja perguntas e respostas sobre a medida. O que é o Seguro DPVAT? Também conhecido como "seguro obrigatório", o Seguro DPVAT (Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre) cobre casos de morte, invalidez permanente ou despesas com assistências médica e suplementares por lesões de menor gravidade causadas por acidentes... Leia mais
11 NOV
Conectividade intuitiva é destaque no S60, um modelo focado em tecnologia

Conectividade intuitiva é destaque no S60, um modelo focado em tecnologia

Os carros da Volvo têm como característica um interior minimalista. Recém-lançado no Brasil, o S60 segue essa tendência. O modelo chega com uma ampla gama de recursos tecnológicos, mas aposta em uma conectividade intuitiva, ou seja, oferece ao motorista apenas os controles mais necessários para uma condução segura e confortável. A maioria das funções do S60 é controlada por meio do volante. Tudo é exibido no painel de instrumentos digital de 12,3 polegadas, totalmente... Leia mais
11 NOV
Tecnologias transformam novo sedan em um dos carros mais seguros já fabricados

Tecnologias transformam novo sedan em um dos carros mais seguros já fabricados

Inovação tecnológica que vira segurança. O Volvo S60, novo sedan esportivo da montadora sueca, traz uma série de recursos inteligentes que evitam acidentes ou diminuem os efeitos de eventuais colisões. O resultado é um dos carros mais seguros já fabricados pela indústria automotiva. Com monitoramento constante de obstáculos que podem ser perigosos e sistemas que ajudam o motorista a parar o carro ou desviá-lo de outros veículos, pedestres ou animais, o S60 garante... Leia mais
11 NOV
Segredo: Chevrolet Onix hatch cresce em dimensões, mas reduz porta-malas

Segredo: Chevrolet Onix hatch cresce em dimensões, mas reduz porta-malas

Hatch chegará às lojas quase dois meses depois do sedã (Divulgação/Chevrolet)A Chevrolet não se conteve. Durante o lançamento do sedã Onix Plus, também revelou versões, equipamentos e preços do novo Onix Hatch. Mas ficaram faltando as informações técnicas.Se na geração passada (que continua à venda na versão Joy) Onix e Prisma tinham o mesmo entre-eixos de 2,53 m e compartilhavam portas dianteiras e traseiras, agora hatch e sedã ficarão bastante diferentes da coluna B ... Leia mais
11 NOV
Para peitar Amarok, Toyota Hilux ganhará motor V6… a gasolina

Para peitar Amarok, Toyota Hilux ganhará motor V6… a gasolina

Visual é similar ao da antiga versão GR-S (Divulgação/Toyota)A Volkswagen Amarok V6 não será mais a única picape V6 do Brasil. Só que, com a saída da Mercedes-Benz Classe X, a concorrente seis-cilindros da alemã passará a ser a inédita Toyota Hilux GR Sport.A picape japonesa passou a oferecer o mesmo V6 4.0 que equipa o SUV SW4. Só que, diferentemente da Amarok, o propulsor da Hilux é movido a gasolina.Motor V6 4.0 é o mesmo da SW4 (Divulgação/Toyota)Por conta disso, o... Leia mais