Novidades

02 JUL

Longa Duração: como foi o desmonte do Lada Samara em 1992

O desmonte ao fim do teste parece ter sido apenas protocolar: a rede de concessionárias virou o carro do avesso várias vezes (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

“O Lada Samara teve quatro reservatórios de expansão do radiador rachados, foi rebocado cinco vezes, passou pela pior assistência técnica já vista nos últimos tempos, sofreu vários problemas de carburação, enfrentou bobina defeituosa, trambulador do câmbio quebrado, filtro de óleo solto…

Se estes motivos são insuficientes para reprovar o Samara, aqui vai uma razão definitiva: seu motor foi trocado duas vezes”, assim começava a reportagem do desmonte do Lada Samara, publicada em agosto de 1992.

Lada Samara 1.5L: versão de quatro portas, mas com pouco conforto (Silvio Porto/Quatro Rodas)

O hatch russo foi o primeiro importado a passar pelo Longa Duração desde sua criação, em 1973. Nosso teste consiste em rodar 60.000 km fazendo todas as revisões e serviços recomendados pela fabricante e é feito até hoje.

Ao término, desmontamos o carro em busca de defeitos de projeto e deslizes da rede de concessionárias da fabricante.

Fabricado na Rússia, nosso Lada Samara azul com motor 1.5 a gasolina chegou no primeiro lote importado para o Brasil.

Para completar os 60.000 km o Samara percorreu todo tipo de estrada (César Diniz/Quatro Rodas)

O primeiro defeito apresentado foi simples: a manivela do vidro do motorista exigia muito esforço para ser acionada. “De tão dura, quebrou duas vezes”, dizia o texto, que completava: “o caso só foi solucionado após a remontagem, com uma simples regulagem na máquina de acionamento”.

Foi o primeiro defeito de muitos. Muitos mesmo: o diário de bordo teve 63 anotações de defeitos ou panes, mais que uma por mil quilômetros rodados.

Carburador era simples, porém desconhecido dos mecânicos brasileiros (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

O carburador deu canseira. “O motor do Samara sempre engasgou em retomadas, “embolou” em velocidades constantes, apresentou marcha lenta irregular e foi difícil de pegar mesmo quando quente”.

No desmonte descobriram que, enquanto outros carburadores tinham apenas arruelas de pressão entre as cabeças dos parafusos de fixação e a tampa, no Samara havia arruelas lisas entre as de pressão, o que não garantia boa fixação.

Samara durante o teste de desempenho final. Freios foram elogiados no teste (Silvio Porto/Quatro Rodas)

Os parafusos soltavam com a vibração e a boia do carburador deslocava dentro da cuba. Como se não bastasse, a boia ficava presa, interrompendo o fluxo de combustível. A boia foi trocada na hora de remontar o carro, mas 1.000 km depois ela esfarelou!

Motor teria sido trocado duas vezes. Não por acaso, ao fim do teste ele parecia novo (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

Melhor falar dos defeitos apresentados ao longo do teste. Aos 2.416 km o motor 1.5 8V, de 72 cv a 5.500 rpm e 12 mkgf de torque a 3.400 rpm, começou a queimar óleo.

Suspeita-se que tenha sido neste momento que a primeira das duas trocas de motor foi feita. A outra foi ao redor dos 40.000 km, quando ouve superaquecimento.

Bronzinas novas, pois haviam sido trocadas na última revisão sem qualquer aviso (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

Muitas dores de cabeça vieram do acabamento. “O espelho retrovisor interno não prendia, o plástico do regulador do banco caía a toda hora, a porta do lado do motorista chegou a travar e até a cair! Os parafusos das duas dobradiças se soltaram. Por sorte o carro estava parado.”

Virabrequim estava como novo, mas havia sido polido recentemente (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

Se houve algo positivo no carro? Sim, a suspensão ignorou os maus cuidados que renderam troca de cinco rodas e dois pneus. No fim do teste, as molas e buchas da suspensão estavam em ótimo estado.

Houve outro elogio, para o dispositivo de acionamento manual da bomba de combustível, que enchia o carburador até quando o motor estava desligado. Os freios também foram considerados bons.

Rótula de uma manga de eixo: estava com certa folga, mas ainda dentro da tolerância (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

São elogios pequenos para um carro mau cuidado. Diz a reportagem que mesmo que o Samara tivesse um projeto perfeito, não sobreviveria à falta de cuidados das concessionárias Lada.

Aos 48.000 km, por exemplo, uma revenda esqueceu de dar aperto no filtro de óleo. Resultado: o lubrificante do motor vazou por completo.

Pistão apresentou desgaste nos aneis e carbonização (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

Mas, no desmonte, as bronzinas estavam como novas. “A análise das bronzinas do motor desmontado mostra componentes novos, no máximo com 1.000 km. Foi justamente a quilometragem percorrida desde a última revisão, aos 60.000 km, até o desmonte.” A concessionária abriu o motor e trocou as bronzinas…

As trocas do motor também resultaram em componentes internos como novos no desmonte. O bloco do motor não tinha incrustações e o virabrequim apresentava indícios de que havia sido polido, mas os pistões tinham razoável carbonização, provando que o motor trabalhou bastante com a mistura ar/combustível errada.

Anel sincronizador está claramente desgastado (Antonio Rodrigues/Quatro Rodas)

Quem sofreu foi o câmbio. Luvas e sincronizadores mostravam desgaste bastante acentuado, provavelmente por deficiência de lubrificação.

Lada Samara em viagem a São João del Rey (MG) (Luiz Fernando Martini/Quatro Rodas)

Com tantas provas contra o hatch russo, veio a reprovação no Longa Duração. Concorrente de Chevrolet Chevette Junior e Fiat Uno Mille, o Lada Samara mostrou não estar à altura dos carros nacionais da época – os mesmos que haviam sido chamados de carroças pelo então presidente Fernando Collor, que renunciaria poucos meses depois.

Como disse o jornalista Juca Kfuri à época, após um final de semana com o Samara: “Carroça por carroça, fique com a nossa”.

Clique para ampliar (Reprodução/Quatro Rodas)

*Reportagem original de Heymar Lopes Nunes e Isabel Reis

Fonte: Quatro Rodas

Mais Novidades

02 DEZ
Dez carros que transformaram as lanternas em uma só

Dez carros que transformaram as lanternas em uma só

– (divulgação/Porsche)A Porsche foi uma das primeiras fábricas a adotar as lanternas interligadas em seus carros atuais, talvez porque desde os anos 70 o lendário 911 já trouxesse uma régua reflexiva na traseira. Além dos novos 911, Macan, Panamera e Cayenne, elas estão no elétrico Taycan, o mais recente lançamento da marca.– (Divulgação/Bugatti)Comprada pela VW em 1998 e relançada em 2005, a Bugatti introduziu o conjunto ótico traseiro horizontal no Chiron, apresentado em... Leia mais
02 DEZ
Como o ponto H influencia o seu prazer… de dirigir um carro

Como o ponto H influencia o seu prazer… de dirigir um carro

O ponto H determina diversas características de um projeto (Divulgação/Ford)Muito se fala sobre o ponto H. Em alguns casos ele é elevado; em outros, rebaixado.Nos anos 2000, houve um movimento de elevação que dura até hoje. Mas, atualmente, existe uma tendência, que ainda não se sabe se veio para ficar, de rebaixamento do ponto H.Por definição, o ponto H é um ponto teórico criado pelo encontro do prolongamento das linhas do tronco e das pernas dos ocupantes do veículo.No carro,... Leia mais
29 NOV
Citroën C4 Cactus terá nova geração (e motor elétrico) em 2020

Citroën C4 Cactus terá nova geração (e motor elétrico) em 2020

Novo C4 Cactus chega a Europa ano que vem com motorização elétrica (Christian Castanho/Quatro Rodas)A CEO da Citroën, Linda Jackson, disse em entrevista ao AutoNews Europa que a nova geração do C4 Cactus chega à Europa ano que vem. Ainda caberá a ele a responsabilidade de ser o primeiro carro elétrico de grande volume da marca.Segundo Jackson, a ideia é que 100% da gama de produtos da marca tenha opções elétricas ou híbridas até 2025.O novo C4 Cactus será desenvolvido sobre uma... Leia mais
29 NOV
Deputado quer isentar caminhoneiros de terem CNH suspensa por infrações

Deputado quer isentar caminhoneiros de terem CNH suspensa por infrações

– (EBC/Reprodução)A Câmara Federal tramita o projeto de lei (3919/2019), de autoria do deputado Boca Aberta (PROS/PR), que busca suspender a contagem de pontos e também a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) das categorias C, D e E.Caso seja aprovado, motoristas dessas categorias que estiverem em atividade profissional que forem flagrados cometendo uma infração de trânsito serão punidos apenas com a cobrança da multa.O deputado alega que a atual realidade do... Leia mais
29 NOV
Flagra: novo Peugeot 208 turbo será mais forte que Polo, Onix e HB20

Flagra: novo Peugeot 208 turbo será mais forte que Polo, Onix e HB20

Nova geração do Peugeot 208 começa a ser vendido no primeiro semestre de 2020 (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)O novo Peugeot 208 só chega ao Brasil em meados do ano que vem. Esta nova geração será produzida em El Palomar (Argentina), de onde também sairá a segunda geração do SUV 2008. Mas isso não impede que o hatch compacto de circule em testes pela região da fábrica da geração atual do modelo, localizada em Porto Real (RJ).Hatch está 4 cm mais largo na nova... Leia mais
29 NOV
AMG GT C Roadster é para andar (rápido) de cabelo ao vento a R$ 1,2 milhão

AMG GT C Roadster é para andar (rápido) de cabelo ao vento a R$ 1,2 milhão

Um conversível de mais de R$ 1,2 milhão (Divulgação/Mercedes-Benz)A Mercedes-Benz lança nesta semana no Brasil conversível AMG GT C Roadster. As vendas começam imediatamente, mas para ter um na garagem e rodar (rápido) por aí de cabelos ao vento será preciso desembolsar nada menos que R$ 1.256.900.Estamos falando do terceiro carro mais caro da marca, atrás apenas de GT R e GT R Pro. Sua capota é de lona e pode ser aberta com o veículo em movimento a até 50 km/h, em processo que... Leia mais